The life and death of a small fish

Vou contar-vos a minha história.
Chamo-me Aquae.
Nasci num aquário.
Pequeno e apertado.
Rodeado por milhões de outros pequenos peixes que, presumo, fossem meus irmãos.
Nem todos sobreviveram pela adversidade do meio.
Acho que tive sorte...
Fui transferido para uma loja, assim que aprendi a nadar.
Até nem era assim tão mau.
A nossa "casa" estava sempre em condições e tínhamos comida suficiente.
É uma das vantagens da competitividade empresarial: para se poder vender a mercadoria tem que estar em boas condições.
O grande dia chegou, finalmente.
O meu novo dono tinha apenas cinco anos.
Para mim é muito tempo mas para os humanos parece que não, como vão ver a seguir.
Depois de ter passado por todos os aquários, e depois de ter visto todos os outros peixes, escolheu-me a mim....
Fiquei orgulhoso, claro. Mesmo sem saber o porquê de ter sido escolhido. Mas isso não interessava. Estava feliz. Por ser o escolhido e por mudar.
Fui levado num saco de plástico cheio de água. Uma viagem arriscada e um tanto ou quanto atribulada.
Mas o sonho de uma vida melhor deu-me forças para aguentar a viagem.
Já em casa colocaram-me num belo aquário, amplo e com várias decorações. Luzes adequadas, temperatura controlada e um tubo de onde saíam bolhas de ar. Não sabia para que servia mas devia ter algum propósito (na loja também havia um).
A vida corria bem.
Tinha muito espaço para "andar", alguns esconderijos para brincar e a alimentação estava também assegurada. Talvez, se tivesse alguém com quem brincar.... mas não me podia queixar.
Algum tempo depois acho que deixei de ter interesse. O meu dono deixou de olhar para o aquário e deixou de tratar de mim. A água começou a ficar mais escura. Os filtros deixaram de ser limpos e substituídos. A comida chegava apenas a largos intervalos de tempo o que me obrigava a ficar vários dias sem comer. E aquele tubo de onde saíam as bolhas de ar... deixou de funcionar. Agora percebo para que servia. Sem ele a água perde o oxigénio que me permite "respirar".

Pensei em fugir. Analisei todas as hipóteses possíveis. Mas não havia fuga possível. E um pequeno peixe como eu nunca conseguiria sobreviver lá fora, num mundo que nunca foi o meu.
Agora, que estou à beira do fim, gostaria de agradecer ao meu dono, pelas boas condições que me proporcionou, ainda que por pouco tempo.
Não sei se a minha história alguma vez será lida. Não sei se terá algum impacto nos donos dos meus irmãos, espalhados pelo mundo.
Independentemente disso, nessa altura já não estarei entre vós. Mas espero que esta história, a minha história, sirva para tornar melhor a vida dos outros...
...e que todos possam aprender com ela.

A conclusão pode ser lida aqui.


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