Chuva Nocturna

A cidade espreguiça-se.

O sol já espreita, semi-escondido entre as nuvens.

 

A noite afasta-se, preguiçosa,

levando com ela a chuva e algumas nuvens mais teimosas

 

O casario desordenado que se estende pelas colinas

parece renascer com a luz do dia.

As fachadas lavadas pela chuva da noite

reflectem-se orgulhosas nas poças de água

que insistem em salpicar as ruas.

 

Mas a cidade chora. Lágrimas de uma noite de chuva.

Lágrimas que ainda escorrem da cidade para o rio,

que se arrasta, ao fundo, lentamente, em direcção ao mar

 

Um pouco mais acima, uma estátua perdida no tempo, abriga alguns pombos que em tempos guardavam a cidade, observando lá do alto toda a azáfama de pessoas e outros seres que se desenrolava dia após dia.

 

Essa estátua, perdida no tempo, observa atentamente, na esperança de poder voltar a ver toda essa vida na cidade.

 

Mas a cidade morreu.

Já ninguém percorre as suas ruas.

Ninguém olha pelas suas casas.

Ninguém vagueia pelos seus jardins.

 

E os pombos, velhos e abandonados, não podem fazer mais que guardar a estátua, fazendo-lhe companhia agora que ninguém a vem contemplar.

 

E mesmo sem chover… a cidade continuará a chorar.

E as suas lágrimas vão continuar a alimentar esse rio.

O tal que continua, lentamente, a levar essas lágrimas para o mar.

 

 

3 comentários:

ruth ministro disse...

Magnífico. Adorei.

Beijo

Lenin aka JR disse...

Utzi - Muito Obrigado. Este é um excerto de algo maior que não publiquei nem acabei devido à dimensão. Pode ser que o publique depois em livro, quando escrever as minhas memórias. ;)

Beijinhos

Luisa Oliveira disse...

(E não é que eu vislumbrei a tal cidade?)

Gostei muito.