Despedida I

 
Fechei a última caixa de cartão.
É estranho ver os restos de uma vida,
fechados em meia dúzia de pequenas caixas de cartão.
Então é isto que sobra,
depois de tudo o que fizémos,
depois de tudo o que vivemos.
Apenas alguns trastes empoeirados
acumulados ao longo do tempo.
 
Olho à minha volta.
Nada mais do que paredes brancas e nuas,
gastas pelo tempo.
Fecho a porta atrás de mim, pela última vez.
Avanço pelo corredor, sem me virar.
Não quero recordar aquela casa assim, vazia.
Não quero recordar aquela casa,
porque o passado vive ali.
 
 

5 comentários:

Rita Santos disse...

gostei muito.

beijinho*

Anónimo disse...

Depois da assustadora e ao mesmo tempo promissora virgindade de um deserto por preencher, de um vazio por construir, passas no dia seguinte para o ambiente concentracionário do labirinto das caixas de cartão da nossa memória...

Que estado de espírito flutuante, que inquietude pressinto na tua alma ainda errante, amigo!

E diz-nos: onde vais buscar essa inspiração? Andas com um bloco de notas, pronto a absorver um qualquer pensamento fugaz no meio do teu dia-a-dia? Ou planeias momentos de introspecção, impões um espaço próprio na agenda para dares largas à tua (rica) imaginação?

Um abraço e "keep in touch"...

Lenin aka JR disse...

Pokas - Obrigado e volta sempre.

Loboalpha - Não sabes como fico contente por alguém interpretar dessa forma aquilo que escrevi. É que é mesmo isso. Sem tirar nem pôr. Subjectivamente falando, claro. ;)

E respondendo à tua questão, os momentos de inspiração não são assim muitos e, normalmente, aproveito-os quando me deparo com eles. E sim, ando com um bloco para apontar os highlights que depois serão alvo de desenvolvimento. Quanto aos momentos de introspecção, normalmente não funcionam. Ultimamente têm-se mesmo revelado uma perda de tempo.

Abraço.

Luisa Oliveira disse...

Coragem.

ruth ministro disse...

Memórias em caixas. Empoeiradas. Velhas. Gastas. Parte de um passado que tentamos fechar, que nos esforçamos por não recordar, mas que permanece guardado em nós. Mais tarde ou mais cedo vamos abrir essas caixas e acarinhar os pedaços da nossa existência que lá estão dentro... Com saudade, quem sabe.

Mil beijos