A cidade espreguiça-se.
O sol já espreita, semi-escondido entre as nuvens.
A noite afasta-se, preguiçosa,
levando com ela a chuva e algumas nuvens mais teimosas
O casario desordenado que se estende pelas colinas
parece renascer com a luz do dia.
As fachadas lavadas pela chuva da noite
reflectem-se orgulhosas nas poças de água
que insistem em salpicar as ruas.
Mas a cidade chora. Lágrimas de uma noite de chuva.
Lágrimas que ainda escorrem da cidade para o rio,
que se arrasta, ao fundo, lentamente, em direcção ao mar
Um pouco mais acima, uma estátua perdida no tempo, abriga alguns pombos que em tempos guardavam a cidade, observando lá do alto toda a azáfama de pessoas e outros seres que se desenrolava dia após dia.
Essa estátua, perdida no tempo, observa atentamente, na esperança de poder voltar a ver toda essa vida na cidade.
Mas a cidade morreu.
Já ninguém percorre as suas ruas.
Ninguém olha pelas suas casas.
Ninguém vagueia pelos seus jardins.
E os pombos, velhos e abandonados, não podem fazer mais que guardar a estátua, fazendo-lhe companhia agora que ninguém a vem contemplar.
E mesmo sem chover
a cidade continuará a chorar.
E as suas lágrimas vão continuar a alimentar esse rio.
O tal que continua, lentamente, a levar essas lágrimas para o mar.
3 comentários:
Magnífico. Adorei.
Beijo
Utzi - Muito Obrigado. Este é um excerto de algo maior que não publiquei nem acabei devido à dimensão. Pode ser que o publique depois em livro, quando escrever as minhas memórias. ;)
Beijinhos
(E não é que eu vislumbrei a tal cidade?)
Gostei muito.
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